sábado, 11 de setembro de 2010

A dor de uma separação



Sentada, cansada, revoltada, com lágrimas presas pela raiva e pela indignação, abro meu romance em sua última página, olhando para o homem que sempre foi tudo em minha vida, e hoje, retribui meu amor com indiferença.
— ”Eles se casaram e foram felizes para sempre...” - solto uma gargalhada sarcástica e logo após fecho as mãos em punhos.

Suspiro fundo e jogo meu livro conta a parede, muito próximo àquele pescoço, o qual eu tanto quis um dia acariciar e a todo e qualquer custo, proteger. E hoje, gostaria de esmaga-lo entre meus dedos.
O livro cai aberto no chão, na página em que ele fez uma dedicatória com a promessa de um amor eterno. O barulho que o fez desviar assustado, lembrou-me que essas mesmas paredes um dia camuflaram nossos sons de amor. Um dia, apoiaram minhas costas imprensadas loucamente em uma quente reconciliação.
— Eu não acredito em conto de fadas! - encarei os olhos de Michael, o homem que colocou a reluzente aliança em meu dedo.

Michael levantou-se, ficando parado frente a mim. Sua máscara de anjo, embrulhava meu estômago. Ele abaixou-se, ficando entre minhas pernas largadas e já cansadas de fazer pose de dama, algo que eu só tentava forçar para agrada-lo.
— Agora que está mais calma e menos agressiva, podemos conversar Vick? - após um grande tempo, no qual só eu expressei-me, ele resolveu dirigir-se a mim, ou tentar.
— Vai dizer que já não me ama mais? Que já não significo mais nada em tua vida? - falei em baixo tom, recebendo seu toque macio em minha face, que já se transformava em um leito para um rio de lágrimas incontroláveis e vergonhosas.

Como ele pode ficar tão calmo, enquanto eu sinto que posso explodir? Sua tranquilidade era uma ofensa ao meu coração, que sofria e inquieto queria berrar, sangrar até parar de bater. Se eu morresse, poderiam dizer tudo, menos que fui fria!

Com as costas das mãos, bati em seu antebraço, na tentativa de acabar com o paradoxo irônico e ridículo que acontecia.
O causador de minhas lágrimas, tentava enxugá-las e meu corpo ainda se atreveu a arrepiar-se com aquele toque gélido. Seria nervosismo da parte dele? Não sua burra! Não crie falsas possibilidades para justificar sua fraqueza em reagir ao contato.

Fechei os olhos, suspirando fundo. Michael então tampou meus lábios com o dedo indicador, obrigando meu instinto a deixar minhas defesas do coração em alerta. Encarei sua face, tentando analisar a casca, o homem, o conjunto.

Procurei a raiva, mas acho que esse sentimento estava todo em mim. Depois tentei achar traços de tristeza, ou dor, ou quem sabe alegria e satisfação... Porém nada disso encontrei. O que sente este homem, que diz querer ficar sozinho? Nada?

Seu olhar vazio me ofende, ao passo que me humilha ao deixar claro que não consegui dar sentido à sua vida. Não consegui fazê-lo feliz...
— Eu não quero te fazer sofrer... Eu só preciso de um tempo! - olhou para o chão, sabia que não conseguiria me convencer de que a distância poderia ser uma solução. Quem sabe uma solução até poderia ser, mas não é necessariamente a única. Não mesmo!

Ele levantou-se e foi em direção às malas que ele já havia feito a uma semana, acusando meu gênio, minha postura, meu ciúme.
O fitei séria. Irredutível. Michael retribuiu o olhar e passou os dedos na mala, estrategicamente posta perto da porta.

Aproximei-me lentamente, conversando mentalmente comigo mesma e tentando ensinar ao meu psicológico, que após sumir no horizonte, Michael deixaria minha vida.
Passos de bailarina, continuavam a se arrastar pela madeira encerada, quase inaudíveis a ele, que para meu espanto, chorava.

Levei a mão ao lado esquerdo do peito, com a respiração já falha. Tudo agora mudava e eu tinha a minha resposta. Não tão boa ou ruim, mas precisa e verdadeira.
Michael parecia querer torturar-me ao apertar a alça da mala, um sofrimento que acabou quando ele a soltou no chão, virando-se para mim.

Consegui enxergar sua tristeza, sua dor e então o homem indiferente sumiu, como pó, deixando ali estático somente o Michael que um dia eu conheci, perdido entre a entrada e a saída.

Seu olhar sofria com a lágrima desobediente que percorria em minha face e assim peguei-me perdida entre o nada e o tudo, pois se ele sofre, me ama e se me ama... significa que valeu a pena. Burra? Nem tanto! Não tem como escapar do arrepio provocado por aquele olhar enigmático. Para que decifrar, se o charme está no mistério?

Minha raiva, foi contida; minha revolta, contestada pelo coração e assim, nessa reflexão monologa, aproximei-me terna e toquei no rosto daquele homem calmo, que no fundo só não queria transparecer e dividir seus medos.

Suas mãos apertaram meu corpo contra o seu, enquanto seus olhos expressavam muita coisa ao mesmo tempo, tanto que antes mesmo de eu pensar em contestar seus atos, vi meus lábios entregue a um beijo atormentador, aparentemente mais intenso e apaixonado do que qualquer outro beijo ocorrido em meio ao relacionamento.

Senti meu corpo voar até a parede e sorri ao ver seus dedos cravados em minha pele, uma pele que tremia pela abstinência do toque.
Michael deu-me um último beijo apressado, como se fosse perder um embarque. Puxou meus cabelos para trás e mais uma vez eu sorri, mesmo que sem motivo algum.

Ainda sério, ele acumulava em si mesmo uma revolta por descumprir as promessas que havia feito a si mesmo quando por ciúme eu rasguei suas fotos em família. Uma briga boba perto de várias outras que já tivemos. Não estou certa, mas também não estou errada! Soltei-me com expressão desafiadora, alcançando a maçaneta da porta.
— Não vai levar tua mala? - usei meu melhor tom de ironia, logo abrindo a porta com um sorriso vitorioso nos lábios. Michael respirou desacreditado, mas o jogo não havia mudado. Eu ainda queria que ele ficasse. Queria tanto, quanto precisava.
— Qual feitiço você usou, para se tornar a dona da minha emoção? - fechou a porta, segurando por cima de minhas mãos.
— Não é feitiço e nem emoção - o abracei aliviada — A razão te guiou a descobrir, que seus sentimentos estão vivos e nenhum de nós sobreviveria com a dor de uma separação!

 

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