sábado, 27 de abril de 2013

Doeu na alma

E não se poderia colocar a culpa no amor. Ele não provocara o vazio, a tristeza e a dor sufocante que tanto estimulara suspiros derrotados e lágrimas silentes. Não houvera sequer forças para gritar enquanto se encontrara caída no chão do banheiro, porque o sofrimento a fraquejara como nunca. Mal conseguira respirar e encontrar motivos para fazê-lo. Os pulsos involuntários a deixara, como se seu corpo estivesse morto, como se "existir" fosse demasiadamente pesado.
A água caía como compaixão, acariciando-lhe os olhos inchados e carregados de confusas expressões.
A calmaria revelara falta de forças para reagir, mas também mágoa e inexistência de ódio. Não quisera brigar com o mundo, tampouco com o amor, e sim afogar-se em sua fossa até que conseguisse achar algum motivo para se levantar. Motivo? Não achara! Tudo o que sentia era amor, mas amor nunca fora o bastante.
Amara, mas - em tese - o irônico pretérito mais que perfeito não causara problema algum. A falta de reciprocidade fora em si o ponto de partida de todo e qualquer desespero.
Mas ainda que não fosse amada, tivera motivos (internos e inexplicáveis) que a levara a nutrir sentimentos bons... Até que esses foram embora - e por isso tudo a machucara tanto.
Chegara a ponto de saber que querer - apenas QUERER - era errado. E que se ele algum dia a quisesse, aceitá-lo seria falta de amor próprio. Chegara ao extremo de ter que desapegar, deixar ir e perder... Para não perder a si própria.
E penara tempos a fio, porque a vida a obrigara a romper o último fio, a última ponte. Teria que deixar de sentir, e o desamor imposto lhe fizera mais mal do que o amor incompreendido. Preferia sofrer de amor a tornar-se incapaz de amá-lo.
Mas deixar o sentimento ir era o certo a se fazer, mesmo contra seu desejo mais oculto dentro da alma. Era injusto, mas não pudera seguir seus instintos. Não era mais possível amá-lo, fazê-lo seria ser burra e louca.
E chorara e quase morrera. E sofrera como se relembrasse até dos tombos da infância. Sentira de tudo um pouco: Náuseas, nervoso, vômito. Choro, encolhimento, desproteção...
Ainda o amara com cada fibra que a mantivera viva e, por isso, como fora triste a tristeza de desaprender a amar!