terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ventania Silente

Ventania Silente



"Maris acordou logo cedo, aquele seria mais um novo dia. Abriu as cortinas e deixou a luz cinzenta invadir a obscuridade de seu quarto, permitiu que entrasse para lhe fazer companhia.


O som vindo do oboé de madeira - ou melhor, da recordação que tinha - ainda atormentara seus sentidos, sentenciando-a como infeliz refém da saudade.


Sozinha, sem mais melhores alternativas, aproxima-se da janela e turva a vista, conseguindo enxergar na forma das nuvens o oboísta de ilusões. Ele não estava realmente lá, mas ela preferia pensar que sim e enganar os próprios olhos.


Sorriu verdadeiramente, como a tempos não conseguira. O sopro do instrumento, sem nem mesmo emitir frequência alguma, invadia sua alma, tal que agora sorria junto ao corpo - ou mais que ele.


Havia presença, mas precisava de ruído. Subiu na grade, querendo alcançar sua maior nota, porém a voz não saía. Agarrou-se à coragem, mas tal não a segurou: Infelizmente caiu!"


Acordou assustada, ainda não tinha amanhecido. Abriu a janela e percebeu que chovia - chovia muito. Noite escura, fria como sua alma, tão turbulenta e assustadora quanto os raios. Porém, ainda assim, silenciosa.


Aprisionada no som de seus próprios devaneios, tinha que acostumar-se com o vento silente: Atormentador e quieto, causador de medo e de arrepio.
O jeito foi fechar a janela, talvez a saudade seria para sempre seu martírio.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Down To Earth

Down To Earth



Assim como disse um dos meus escritores prediletos, eu quero viver a verdade e não somente o presente, já que se vive de realidade e não de tempo.



Escrevo mal, sou chata e - agora - pés no chão. Aprendi que o céu pode esperar, e que tenho que viver cada coisa em seu tempo real, não o tempo medido, o tempo vivido - que é sempre menor.


Um terço da vida, passamos dormindo, e eu, consequentemente, sonhando. É como se o céu fosse palpável, é como se eu pudesse voar. É COMO SE - resume-se a uma hipótese, mas eu não a quero, anseio a verdade, exclusivamente ela. Por isso, estou voltando à Terra. Decidi deixar os sonhos de lado.


Sonhos são apenas sonhos, quisera eu só dar importância desde sempre aos sentidos, teria vivido mais - quanta inveja de Alberto Caeiro, que existiu sem ser, foi sem sentir, sentiu sem querer.


Entro em contradição, erro, ninguém me entende. Talvez porque nunca consegui fazer o que é tão fácil nos sonhos. Não sou perfeita, fácil é errar... Então sonho parar de sonhar, para ser eu mesma, não apenas um rascunho daquilo que queria ser.

Naty

Naty




Você deve pensar que eu não me lembro mais de você, mas eu sinto muito a tua falta. Não, não é por nada daquilo que você possa estar pensando. Sabe porque eu sinto tanto a tua falta? É que quando eu olho para o meu passado, vejo que você foi uma das coisas que o fez valer a pena. Eu queria poder apagar o passado, mas agora sei que se pudesse, não o apagaria, já que você estava lá.

 
Você gosta de rosa, eu de azul. Você ama Crepúsculo, eu Harry Potter. Você é fã de Jonas Brothers, eu de Michael Jackson... Aparentemente nada em comum. Como conseguimos nos dar tão bem assim? Eu realmente não sei! Sempre achei nossa amizade muito legal, já que não tínhamos os mesmos assuntos... E mesmo assim, saiam risadas e momentos muito únicos. Você com essa cara de santa, é uma das garotas mais loucas que já conheci. Louca de espírito, sempre me fazendo rir. Mas é também a garota mais pura que já conheci. Deus está ao seu lado, já que você é um dos poucos anjos que vieram à Terra.

 
Olho para trás... Tantos pensamentos. Você apoiando minhas lágrimas - a única que fez isso, verdadeiramente, quando eu mais precisei. Todos inferiorizando minha dor, mas você estava lá. Sendo idiota ou não, era minha dor e você sabia respeitar. Você é a garota que me ensinava como era a grafia correta de uma palavra, que fofocava comigo na hora do recreio... Coisas tão simples, mas que ficarão eternamente em minha memória. Vai lá no seu caderninho e leia. Tudo o que eu escrevi ainda é válido - mesmo que escrito errado, o sentimento é verdadeiro. Tuas dores são minhas, sempre estarei aqui para o que precisar e não é da boca pra fora.

 
Lembro-me de quando você leu um pedaço de um dos meus escritos mal feito - como todos - e você ficou rindo. Eu estou editando aquela história e eu ri muito ao lembrar da tua história perto do CTU. Naty, Naty... Só você para ser tão engraçada e ainda falar que lembrou da minha história naquele momento tenso.




Sabe o que eu desejo a você? Muita saúde, paz, vitalidade, amor, força... Se tem alguém nesse planeta Terra, que merece ser muito feliz, esse alguém é você. Minha amiga, a única das antigas. Nunca brigamos. Nunca mesmo! Posso fazer um pedido? Vamos ser amigas para todo o sempre e mostrar ao mundo que em toda e qualquer circunstância estaremos unidas. Eu já falei e você sabe... Que pela nossa amizade eu corto todo o meu cabelo, ou faço qualquer outra coisa...


Espero que ainda possamos nos ver muito. E que você vença todos os desafios da vida. Se precisar de apoio é só gritar que eu dou uma vassourada no Bicho Papão. Somos pequenas, mas juntas somos quase uma pessoa inteira - um dia chegamos lá! Um pedido - só mais um: Sorria, sorria, sorria. Pode escalar uma montanha, teus amigos nunca a deixará cair!













domingo, 12 de setembro de 2010

A ponte e a Amizade

A ponte e a Amizade



É estranho estar sozinha em um quarto, escutando uma música qualquer, sem nem mesmo compreender a letra. Uma ponte de ferro... Esquecida depois das férias. É tão bom ter alguém em quem confiar. Sempre fui pequena, fraca, frágil... Mas quando minha amiga precisou, eu estive aqui, firme como uma ponte para guiá-la em seus caminhos.

Sincera eu fui, tentando mostrar a direção certa. Mas agora que a chuva acabou e a ponte já foi usada para se chegar à Cidade do Sol, perdeu sua importância - ou melhor - utilidade.

Os monstros da vida só crescem e então precisamos de uma mão para nos segurar. Fui a ponte e nem lembrei que poderia enferrujar. Desculpe se te decepcionei... Amiga! Já que a ponte só sai no noticiário se ruir, você ainda vai ouvir falar de mim, mesmo que eu não esteja mais aqui.

Desculpe por eu existir, desculpe! Dias atrás tentei escrever, mas saiba que é muito difícil o que eu quero dizer. Estou caindo aos poucos, então não fique por perto. A ponte vai cair, e esse fato é certo. Desculpe o meu jeito, mas eu digo a verdade... Você não precisa da ponte e eu não quero tua amizade!


***

Verdade Contraditória

Verdade Contraditória


Contradizemo-nos com a verdade, pois ela é momentânea. Os fatos não sofrem mutação, mas nós sim. Se um amor do passado existiu, não significa que mentimos ao declará-lo na época e sim que erramos ao apagar a própria vida, banalizar os próprios sentimentos.



O verdadeiro amor é visto como uno, pois só conseguimos conservar um por vez. Tachamos o outro como errado por não nos corresponder, mas fazemos a mesma coisa quando temos a oportunidade. Viramos as costas para quem nos dá valor, fazemos o sinal da cruz, repudiamos, oramos e ainda ousamos dizer amém. Ignoramos o amor, sem neste momento lembrar, que algo parecido pode ocorrer conosco também.




* * *

Devaneios Solitários

Devaneios Solitários

Sento-me desnorteada e sem saber o que fazer, presa na escravidão de ter que sair para viver.
Nunca pensei que fosse tão difícil sair. Levantei-me confusa, sem saber que destino seguir.

–– Pernas não andam e sim a mente! - filosofei em um monólogo e fui escrever.
Na imaginação eu tenho o mundo, com ela sempre sei o que fazer.




***

sábado, 11 de setembro de 2010

Remember The Time

Remember The Time


Como dói recordar...



Por que toda vez que eu abro meu peito para conferir, você ainda está lá? Juro que já tentei por vezes te esquecer e é por isso que eu às vezes tento não pensar, para ver se tudo referente a você vai embora. Mas será que eu quero que você vá? Talvez eu não queira e é por isso que o coração sempre sai ferido ao declarar guerra contra a razão.


Quem sabe se eu esquecesse, não conseguiria parar de chorar? Meu riso, é um pranto disfarçado. Meu choro, é quando o disfarce não é o bastante... Não é o bastante para que eu continue escondendo o que sinto. Mentindo para mim, toda vez que digo que está tudo bem. É triste chorar por mágoa. Poderia ser por dor. Pena que não é! E é estranho saber que você não tem culpa de nada...



♪ "Você se lembra
Quando nos nos apaixonamos
Nós éramos jovens e inocentes, então
Você se lembra
Como tudo começou?
Parecia com o céu
Então porque é que ele terminou?" ♪


Por que você pede para eu recordar tudo o que aconteceu entre nós dois? Basta teu rosto se estampar em minha mente para que eu estremeça. Você tem total domínio sobre mim.


Pare de pedir, só porque você sabe que pra você eu não sei dizer não. Mas do que adianta eu lembrar de tudo, se é passado? Para mim é como se eu tivesse te visto ontem, mas não. Não é bem assim. Já não nos vemos há tanto tempo... Para que relembrar? Deixe-me enterrar o passado! É melhor não mais imaginar o outono ao seu lado. Você não estará aqui!



♪ "Você se lembra
de volta o outono
Nós estaríamos juntos durante todo o dia
Você se lembra
Nós de mãos dadas
Em cada um dos olhos do outro tínhamos olhar fixo" ♪


Será que você se lembra, de quando brincávamos de pique? Eu lembro! Eu corria mais que você. Você me chamava de garota só para irritar... Eu lembro, mesmo sendo coisa de oito anos atrás! O tempo não te apaga de minha mente, não te fixa em meu passado. Por isso sei cada data, cada estação referente a nós dois.


Pensando bem... Nós!? Será que um dia fomos algo mais do que a separação do você e do eu? Creio que não. Estar de mãos dadas, não é sinônimo de união.

Parece que foi ontem, que chegando até a mim você abriu o sorriso mais lindo do mundo e ofereceu sua companhia à garota mais solitária que se pudera encontrar desde teus olhos atentos, até o final do horizonte. Talvez, fosse melhor eu ter ficado sem alguém ao meu lado. Acompanhada do teu calor, eu fiquei mais sozinha do que nunca. Já que ali, eu perdia a minha própria companhia. Eu não estava mais comigo, eu estava contigo!



♪ "Você se lembra do tempo
Quando nos apaixonamos
Você se lembra do tempo
Quando nos encontramos pela primeira vez
Você se lembra do tempo
Quando nos apaixonamos
Você se lembra do tempo" ♪



Pare de perguntar se eu lembro. É algo meio óbvio. Essa pergunta deveria ser minha. Eu lembro de cada vez que nos encontramos. Naquele dia nasceu algo, a intensidade só eu sei e a dor foi grande quando eu descobri a veemência.

Eu chorei naquela noite de natal, assustada comigo mesma, quando vi que havia te perdido mais um pouquinho. Eu nem sabia que era humanamente possível amar tanto uma só pessoa. Eu não era acostumada a chorar, mas naquele dia nasceu uma nova menina. A menina multipolar, louca, estranha, que descobriu a magia e o consequente sofrimento que vem no pacote completo, chamado primeiro amor.



Tudo antes de você tornou-se uma piada. Nada depois de você teve sabor. Eu sei, você não teve culpa de despertar em mim o amor.

As lembranças doem. Sim, eu lembro-me de cada detalhe. Das conversas, cada uma delas. Ao teu lado, o tempo parecia passar de um modo diferente. Eu poderia jurar que uma hora cabe exatamente em um segundo. Como tudo parecia ser tão rápido? Um dia, passava em um piscar de olhos. Sim, eu me lembro.


♪ "Você se lembra?
Como nós costumávamos conversar
(Você sabe)
Ficávamos no telefone durante a noite até o amanhecer
Você se lembra
Todas as coisas que disse, como:
Eu te amo nunca deixarei voce partir" ♪



O tempo se passou. O tempo... que sempre nos separou, unido à distância para tentar me fazer partir enquanto você olhava de braços cruzados. Eu sei que por você eu não teria de ir embora. Mas tão jovem, não tinha como me fazer ficar. Eu sei, eu me lembro.

Eu sempre te amei, nunca escondi isso de ninguém. Quem sabe para ficar mais fácil, eu devesse transcrever uma história, já que eu nunca me cansarei de falar sobre tudo o que aconteceu.

Sim, era primavera. Eu já estava magoada, visto que foi difícil esquecer as lágrimas. Mas algo estranho sempre acontecia. Bastava você sorrir... para eu interrogar ao meu coração, se ele algum dia já tinha sofrido. A resposta era não, sempre não. Sua presença sempre bloqueava tudo de ruim.


♪ "Você se lembra de volta a primavera
Todos os pássaros da manhã cantariam
Você se lembra
Aqueles momentos especiais
Eles apenas passam, e passam
No fundo da minha mente" ♪


Talvez eu seja tão idiota, que cada uma das palavras que você usou tornaram-se as titulares do meu vocabulário. Lembro de cada apelido que eu ganhava, por você sempre querer me irritar.

Tão fofo, tentando trazer um sorriso aos meus lábios. Creio que você nunca soube que era mais fácil do que você imaginava. Meu sorriso estava em suas mãos... E não importava se estava ensolarado ou chuvoso, de qualquer modo eu estaria tremendo. Não era efeito do clima...

O vento espalhava teu perfume, do qual eu sei a marca. Em minha memória está marcada a data do teu aniversário. Sim, menino que adora ser sempre o mais inteligente, eu sei mais sobre você... do que sobre mim mesma!



♪ "Aquelas doces memórias
Será sempre querido para mim
E garota não importa o que foi dito
Eu nunca vou esquecer o que tínhamos"



Eu sei que você não se esquece de tudo. Mas em teu peito é passado. Por que você faz isso comigo? Eu lembro de tudo... Mas quando você pede para eu lembrar, dói! Eu fecho os olhos e frente a mim aparece teu sorriso, teu olhar. Tudo tão lindo, tudo tão teu. Chega a parecer miragem.

Quando lembro-me de tua mão, sinto que em mim ainda falta um pedaço. E por isso e outras coisas, se me disserem que estou louca, posso até acreditar. Quem sabe a loucura, é mais que um sintoma de amar.

Esta tarde eu me peguei escutando uma canção e, por impulso, dancei para o sofá. Conversei com a imagem que minha mente insiste em ainda enxergar. Sorri para você. Estou louca, já que você não estava lá. Não escutou meus devaneios, nem nunca escutará... você se foi. Está marcado no calendário e por isso eu fiquei lá atrás. Tentando mudar o futuro, apego-me ao passado. Apego-me onde posso lhe encontrar, seja onde for.

Desliguei o som e coloquei-me a chorar. Digam-me, estou louca? Por que eu insisto, se não faço parte de tua realidade... Mesmo que você se lembre, mesmo que as lembranças lhe tragam saudade... É difícil aceitar que enquanto na verdade eu lhe desejo, você apenas me desejou. E por mais que eu pare o tempo - hora e minuto cronometrado - não dá mais para eu ser teu presente, serei mesmo assim apenas lembrança de teu passado.


***

Amor

Amor

O amor é aquilo que Camões tentou descrever
e existe, mesmo que não se possa ver.
O amor é indecifrável, tão quanto a saudade
e não conferimos, se é mentira ou verdade.
É um sentimento espontâneo que não pode se comprar.
Uma raridade a qual, nada pode se igualar.
Mas afinal para que tentar definir,
esse tal ato de amar?
Sempre tentei definir o amor
é quase uma necessidade humana.
Idealizar e ter ansiedade,
infelizmente é a nossa realidade urbana.
Nunca mais vou programar.
Para amar não há ensejo.
Não vale a pena ensaiar
é boa a surpresa de um beijo!
* * *

Nós

Nós

Sei que não sou eterna,
e amanhã posso até estar morta.
Não sei se irá durar,
mas é o presente que realmente importa.

Não sei se vivo,
ou se somente estou de pé.
Não sei se corro atrás,
ou se apelo para a fé.

Ao seu lado fico feliz,
realizo tudo o que sempre quis.
Mas basta você se deslocar,
para o meu mundo desabar.

Sinto que você é minha alma,
Sou um corpo inerte sem tua áurea.
Sinto-me viva quando estou ao teu lado,
E longe, só um corpo abandonado.

Tua luz ilumina minha escuridão.
Não há nada mais protetor,
do que segurar em tua mão.

Escondo-me em tua face,
para que possas me ver.
Me aposso de teu sorriso,
para que feliz eu possa ser.

Sinto-me ofuscada longe de ti.
Assim como a lua necessita do Sol para brilhar,
eu necessito de tua presença para me expressar.

Se olhar por detrás de mim,
verá tua sombra.
Assim como o mar
é encorpado de onda.

Se olhar por detrás de meus olhos,
verá como te vejo.
Calmo, sereno, uma beleza sem fim.
Se te vejo, me vejo...
...pois és metade de mim.

* * *

A dor de uma separação



Sentada, cansada, revoltada, com lágrimas presas pela raiva e pela indignação, abro meu romance em sua última página, olhando para o homem que sempre foi tudo em minha vida, e hoje, retribui meu amor com indiferença.
— ”Eles se casaram e foram felizes para sempre...” - solto uma gargalhada sarcástica e logo após fecho as mãos em punhos.

Suspiro fundo e jogo meu livro conta a parede, muito próximo àquele pescoço, o qual eu tanto quis um dia acariciar e a todo e qualquer custo, proteger. E hoje, gostaria de esmaga-lo entre meus dedos.
O livro cai aberto no chão, na página em que ele fez uma dedicatória com a promessa de um amor eterno. O barulho que o fez desviar assustado, lembrou-me que essas mesmas paredes um dia camuflaram nossos sons de amor. Um dia, apoiaram minhas costas imprensadas loucamente em uma quente reconciliação.
— Eu não acredito em conto de fadas! - encarei os olhos de Michael, o homem que colocou a reluzente aliança em meu dedo.

Michael levantou-se, ficando parado frente a mim. Sua máscara de anjo, embrulhava meu estômago. Ele abaixou-se, ficando entre minhas pernas largadas e já cansadas de fazer pose de dama, algo que eu só tentava forçar para agrada-lo.
— Agora que está mais calma e menos agressiva, podemos conversar Vick? - após um grande tempo, no qual só eu expressei-me, ele resolveu dirigir-se a mim, ou tentar.
— Vai dizer que já não me ama mais? Que já não significo mais nada em tua vida? - falei em baixo tom, recebendo seu toque macio em minha face, que já se transformava em um leito para um rio de lágrimas incontroláveis e vergonhosas.

Como ele pode ficar tão calmo, enquanto eu sinto que posso explodir? Sua tranquilidade era uma ofensa ao meu coração, que sofria e inquieto queria berrar, sangrar até parar de bater. Se eu morresse, poderiam dizer tudo, menos que fui fria!

Com as costas das mãos, bati em seu antebraço, na tentativa de acabar com o paradoxo irônico e ridículo que acontecia.
O causador de minhas lágrimas, tentava enxugá-las e meu corpo ainda se atreveu a arrepiar-se com aquele toque gélido. Seria nervosismo da parte dele? Não sua burra! Não crie falsas possibilidades para justificar sua fraqueza em reagir ao contato.

Fechei os olhos, suspirando fundo. Michael então tampou meus lábios com o dedo indicador, obrigando meu instinto a deixar minhas defesas do coração em alerta. Encarei sua face, tentando analisar a casca, o homem, o conjunto.

Procurei a raiva, mas acho que esse sentimento estava todo em mim. Depois tentei achar traços de tristeza, ou dor, ou quem sabe alegria e satisfação... Porém nada disso encontrei. O que sente este homem, que diz querer ficar sozinho? Nada?

Seu olhar vazio me ofende, ao passo que me humilha ao deixar claro que não consegui dar sentido à sua vida. Não consegui fazê-lo feliz...
— Eu não quero te fazer sofrer... Eu só preciso de um tempo! - olhou para o chão, sabia que não conseguiria me convencer de que a distância poderia ser uma solução. Quem sabe uma solução até poderia ser, mas não é necessariamente a única. Não mesmo!

Ele levantou-se e foi em direção às malas que ele já havia feito a uma semana, acusando meu gênio, minha postura, meu ciúme.
O fitei séria. Irredutível. Michael retribuiu o olhar e passou os dedos na mala, estrategicamente posta perto da porta.

Aproximei-me lentamente, conversando mentalmente comigo mesma e tentando ensinar ao meu psicológico, que após sumir no horizonte, Michael deixaria minha vida.
Passos de bailarina, continuavam a se arrastar pela madeira encerada, quase inaudíveis a ele, que para meu espanto, chorava.

Levei a mão ao lado esquerdo do peito, com a respiração já falha. Tudo agora mudava e eu tinha a minha resposta. Não tão boa ou ruim, mas precisa e verdadeira.
Michael parecia querer torturar-me ao apertar a alça da mala, um sofrimento que acabou quando ele a soltou no chão, virando-se para mim.

Consegui enxergar sua tristeza, sua dor e então o homem indiferente sumiu, como pó, deixando ali estático somente o Michael que um dia eu conheci, perdido entre a entrada e a saída.

Seu olhar sofria com a lágrima desobediente que percorria em minha face e assim peguei-me perdida entre o nada e o tudo, pois se ele sofre, me ama e se me ama... significa que valeu a pena. Burra? Nem tanto! Não tem como escapar do arrepio provocado por aquele olhar enigmático. Para que decifrar, se o charme está no mistério?

Minha raiva, foi contida; minha revolta, contestada pelo coração e assim, nessa reflexão monologa, aproximei-me terna e toquei no rosto daquele homem calmo, que no fundo só não queria transparecer e dividir seus medos.

Suas mãos apertaram meu corpo contra o seu, enquanto seus olhos expressavam muita coisa ao mesmo tempo, tanto que antes mesmo de eu pensar em contestar seus atos, vi meus lábios entregue a um beijo atormentador, aparentemente mais intenso e apaixonado do que qualquer outro beijo ocorrido em meio ao relacionamento.

Senti meu corpo voar até a parede e sorri ao ver seus dedos cravados em minha pele, uma pele que tremia pela abstinência do toque.
Michael deu-me um último beijo apressado, como se fosse perder um embarque. Puxou meus cabelos para trás e mais uma vez eu sorri, mesmo que sem motivo algum.

Ainda sério, ele acumulava em si mesmo uma revolta por descumprir as promessas que havia feito a si mesmo quando por ciúme eu rasguei suas fotos em família. Uma briga boba perto de várias outras que já tivemos. Não estou certa, mas também não estou errada! Soltei-me com expressão desafiadora, alcançando a maçaneta da porta.
— Não vai levar tua mala? - usei meu melhor tom de ironia, logo abrindo a porta com um sorriso vitorioso nos lábios. Michael respirou desacreditado, mas o jogo não havia mudado. Eu ainda queria que ele ficasse. Queria tanto, quanto precisava.
— Qual feitiço você usou, para se tornar a dona da minha emoção? - fechou a porta, segurando por cima de minhas mãos.
— Não é feitiço e nem emoção - o abracei aliviada — A razão te guiou a descobrir, que seus sentimentos estão vivos e nenhum de nós sobreviveria com a dor de uma separação!

 

***

First Dance


First Dance




Tudo na vida tem seu lado bom. Eu sempre digo, que as coisas nunca chegam ao fim e sim ao início de uma nova etapa. Katlin chegou ao fim do colegial, era a hora de demonstrar meus sentimentos ou conformar-me para sempre com o fato de não ser ninguém na vida dela... Somente um ex-amigo, que na verdade era mais um colega. Com o medo do "cale-se para sempre", tomei coragem e a convidei para passar ao meu lado, a noite mais esperada dos três anos. Eu só não ansiava, ficar tão aflito com essa situação.


Sempre fui tímido. Observava de longe, cada passo de seus pés. Katlin flutua, dança... É com certeza a melhor bailarina que eu poderia eleger como minha acompanhante. Fechei os olhos, imaginando como poderia ser a noite do tão esperado baile. Porém, logo paro. Para que sonhar duas vezes? A realidade será mágica, surreal, um sonho.


♪ "Eu fecho os meus olhos.
Eu vejo eu e você no baile.
Nós dois temos esperado tanto tempo.
Para esse dia chegar.
Agora que chegou vamos fazer esse momento especial."♪


Na verdade sempre enxerguei seus olhares em minha direção. Mas faltava um pretexto, um incentivo para aproximar-me dela.
–– Katlin... - as garotas revezavam nas gargalhadas, aproveitando cada segundo do final do último semestre.
–– Sim!? - permaneço parado, quase hipnotizado com o modo que ela se vira. Tudo nela é muito especial para mim. Em câmera lenta, seus cabelos exalam o cheiro de rosas, ao passo que seu sorriso fica mais bonito. O melhor sorriso, que é aquele que demonstra que ela está feliz em me ver.
–– Posso falar com você? - pergunto em baixo tom, ela sorri e me puxa para o lado de fora.
–– Vamos conversar aqui... - olha para as unhas, tímida. Eu gosto dela por isso, não é como as escandalosas amigas. É meiga, doce, delicada como uma fada –– Michael? - ela tomba o rosto, percebendo minha viagem mental. É claro que eu fiquei imediatamente corado, embaraçado.
–– De-desculpe! - mordi o lábio inferior, sentindo suas mãos sobre as minhas. Passou-me confiança, na simplicidade de um toque, acompanhado de um sorriso infantil –– O baile vai ser legal... Irá selar tudo o que vivemos aqui.
–– Será muito legal... Todas as meninas estão muito felizes. O Tom me convidou, você tem par? - seu olhar estava apreensivo.
–– Sinceramente... - e daí que eu poderia levar um fora? –– Eu pensei em ir... com você! Passamos tanto tempo cada um em um canto, creio que há muita coisa a ser dita...




♪"Eu não consigo negar.
Existem tantos pensamentos na minha cabeça
O DJ está tocando a minha música favorita.
Sem acompanhantes.
Essa pode ser a noite dos seus sonhos."♪

Chegada a noite, eu me pergunto se ela irá comigo, ou fora tudo minha imaginação. O salão está cheio, as horas se passam... Viro-me junto com várias pessoas, a fim de observar a rainha da noite - se não a escolhida por todos, já eleita por mim - Katlin! O azul da prata que prende seus cabelos, refletem em meus olhos. Pensei que ela iria sumir, já que era mais provável que fosse uma miragem: Mas não era!

Mais uma vez a observo, descendo as escadas como uma princesa. Vestido longo em tom claro, como sua pureza. Linda, procurando-me com o olhar. Formalmente dândi, vestido com elegância e apuro, estendo a mão para que ela repouse a sua sobre a minha. Ao término da escada, meu coração está finalmente sob controle de sua dona, que sorri por estar comigo - isso certamente é um sonho!

–– Você está encantadoramente linda! - beijei as costas de sua mão, reverenciando sua beleza.
–– Não há como não estar bela, quando se está feliz acompanhada do mais elegante cavalheiro! - sorri tímida, segurando a calda do vestido, que se arrastava perante a mais linda dama.
–– Concede-me esta dança? - encarei-a galanteador, praticamente sendo atraído por seus brilhantes lábios róseos.



♪"Só se você der.
Der a primeira dança pra mim.
Querida eu prometo que serei gentil.
Agora a gente tem que fazer essa dança lentamente.
Se você me der.
Der a primeira dança pra mim.
Eu vou aproveitar cada momento.
Porque esse momento só acontece uma vez.
Uma vez na vida inteira."♪

Todos os olhares se voltaram para nós, mas como em um passo de mágica, parecia que só havia nós dois naquele lindo lugar. Juntos, parecíamos flutuar. Andávamos suavemente, enquanto conversávamos através dos olhares. Katlin sorria ao escutar a canção. A sua predileta - eu sabia disso - algo que fez-me escutar repetidas vezes a mesma canção, até poder imaginá-la em meus braços, dançando-a nesta noite. Transformando assim, aquela canção em nossa.


Sorri-lhe, perguntando para mim mesmo o que deveria fazer, para cumprir a própria promessa de tornar tal noite a mais memorável da vida tão alegre daquela menina, que sempre vivia sorrindo. Sorrindo perto de mim, sorrindo para mim... Havia chegado a hora de sorrirmos juntos. Toda garota imagina a noite do baile, eu não poderia decepcioná-la.



♪"Eu não poderia pedir mais.
Nós estamos dançando pra frente e para atrás.
Em baixo da bola de discoteca.
Nós somos os únicos na pista de dança.
Eu não posso negar.
Existem tantos pensamentos na minha cabeça.
O DJ está tocando minha música favorita.
Agora que estamos sozinhos.
Aqui está a oportunidade."♪




A canção estava em seus primeiros segundos, ainda nos acordes. Era estranho, como me parecia que já estávamos juntos a mais de mil anos. A perfeição do momento, era de me emocionar... Percebi sua respiração ficar arfante, então a aproximei de meu corpo. Movimentamo-nos ritmicamente ao som, em uma série de passos vindos do que o corpo sabia fazer sozinho, já que a essa hora, eu não conseguia mais pensar, somente sentia a música.


Estávamos no centro, era o que eu realmente sentia, que estávamos no centro: O centro do mundo! Tudo se resumia a nós dois, a dança, a primeira dança... A girei, percebendo que seu corpo estava mole, seus olhos fechados. Rodou e repousou a cabeça em meu peito, que guardava o mais pulsante e apaixonado coração: Sorriu!




♪"Só se você der.
Der a primeira dança pra mim.
Querida, eu prometo que serei gentil.
E agora a gente tem que fazer essa dança lentamente.
Se você der.
Der a primeira dança pra mim.
Eu vou aproveitar cada momento.
Porque esse momento só acontece uma vez.
Uma vez na vida inteira."♪




A dança dizia tudo. A dança de nossos corpos, almas, intenções... A dança do amor, da descoberta. A única e exclusiva primeira dança. Nunca mais haveria tal momento. Segunda dança, terceira, mas a primeira sempre seria esta e antes da música acabar, eu tinha de dar importância a ela.


O relógio parou, a canção parece ter se prolongado para que se concretizasse a mágica da noite: O beijo! Não havia ninguém ali - eu não os enxergava, não ficava com receios - então uni nossas testas, deslizando os dedos em seus cabelos. Seu olhar focou no meu, nossas pupilas se dilataram, beijamo-nos primeiramente com os olhos: Foi pura mágica.


♪"Todo mundo diz que nós ficamos fofos juntos.
Vamos fazer dessa noite, uma que nós lembraremos.
Sem professores por perto para nos verem dançando juntos.
Eu estou te dizendo nossos pais nunca vão saber de nada.
Antes que as luzes acendam e a música seja desligada.
Agora é a hora perfeita para eu experimentar seu gloss.
Seus sapatos de vidro na minha mão, bem aqui
Vou fazer tudo acontecer antes que o relógio bata nove horas"♪




Juntos parecíamos céu e estrela, um palco pronto para o outro brilhar. Em meus braços ela transformou, a realidade em sonhar. Os momentos que não sonhei, tornaram-se em realidade. Um beijo com os olhos, tornou-se verdade. Toquei seus lábios com os meus, sentindo o amor brincar em meu estômago. Sua pele macia tocou a minha. Sua respiração perto demais, seu fino nariz dançando com o meu... Sorri, antes mesmo de abrir os olhos e iniciei o segundo beijo, ainda na primeira dança.
Um flash, paralisou o tempo eternamente, para podermos recordar daquele beijo, julgado como insensatez. Mas eu aprendi a viver o momento, pois primeiro amor, só acontece uma vez!


♪"Se apenas você der.
Sua primeira dança pra mim.
Querida, eu prometo que serei gentil.
Agora vamos dançar lentamente.
Se você der.
Der sua primeira dança pra mim.
Eu vou aproveitar cada momento.
Porque esse momento só acontece uma vez
Uma vez na vida inteira"♪


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