sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Vovó





Sei que a foto não está nas melhores condições, mas foda-se a foto! Quero somente falar sobre seu significado. Essa é minha avó, Guilhermina, minha "mãe Mina". Foi uma das pessoas mais importantes da minha vida... Ela me deu todo seu amor, mesmo antes sendo um pouco dura e seca demais. Comigo ela era sempre um doce, uma manteiga derretida... Ela sempre me mimava, comprava lacinhos e balões e fazia mingau até quando eu já era grandinha... Ela me deu vitaminas quando eu era um bebê magricelo e que jogava toda a comida para o chão. Ela passou várias coisas na minha cabeça para crescer cabelo quando eu era careca, ela me deixava mais branca ainda quando quase me afogava em talco, batia na minha bunda, brigava, me deixava de castigo e ainda assim brincava comigo como se tivesse minha idade... Minha avó me dava a mão e me carregava pra todo lado, ficava comigo no banco da frente do ônibus e matava minha mãe de ciúmes. Aliás, minha mãe era simplesmente a "Nena" e minha avó "a mãe Mina". Isso porque todos à minha volta chamavam aquela senhora de mãe e então eu também queria chamar. Depois eu aprendi que a minha mãe não era a mãe da minha mãe... Mas eu continuei a considerando como tal. Eu sempre me vangloriei por ter duas mães. Duas ótimas mães.

Minha avó subia no topo da árvore, dava “tchauzinho” e me desesperava. Minha avó caía, chorava, era levada. Fazia doce de leite e ia me ensinando como fazer. Ajudou-me com meu primeiro arroz. Tentou várias vezes ganhar na “Mega Sena” com meus números, ela achava que eu desse sorte... Pobre senhora iludida.
Mas o que eu mais me lembro é de quando eu era maiorzinha... Lembro-me de quando eu chorava e pensava que ia morrer. Sabe... Eu sabia que ali bem pertinho de mim tinha alguém para me dar colo, me confortar e me dar uma segurança fora do comum. Eu poderia brigar com o mundo, poderia surtar e fugir de casa... Eu tinha minha avó me esperando, de braços abertos, histórias a contar, charadas a compartilhar... Eu tinha minha avó. Ela ria comigo, me ensinava a orar e a rezar, me ajudava a aprender as músicas de sua época... E eu... Eu me orgulho de ter escutado cada história que ela desejou me contar. Ela cantava para afastar meu medo da chuva e me gritava debaixo da mesa quando eu sumia.

Ela sabia tudo sobre meu corpo. Sobre minhas dores de barriga. Ela sabia que eu tinha uma infernal dor de cabeça quando chorava e sabia exatamente qual era a fórmula do xarope caseiro que melhorava minha gripe... Ela me desejava o bem, me abençoava... Nós tínhamos uma canção, a nossa canção. Nós tínhamos uma à outra. Às vezes minha mãe acha que eu não me lembro mais da minha avó só porque eu não falo dela todos os dias, mas não é assim. Ela está presente em mim. No jeito ondulado de meus cabelos naturalmente castanhos, em meu nariz fino, em minha orelha grande... Minha avó está em meu sangue, em minha alma, em tudo que faz parte de mim.
O ar sumiu da minha frente quando a fecharam em um caixão. Não, eu nunca falei sobre isso e nem sei por que tocar no assunto agora... Mas aprendam uma coisa: Quando alguém não toca em um assunto, não significa que ela não se importa. Significa que dói tanto... que é melhor nem falar.
Quando entro naquele onde era seu quarto, sinto falta de sua presença. De nossas palhaçadas. Sinto falta de escuta-la chamar meu nome, reclamar da minha bagunça e do meu barulho quando eu brincava com meus amigos no quintal... Sabe... Eu sinto falta disso tudo. Sinto falta até mesmo de - por fim - trocar suas fraudas sujas e escovar seus dentes. Sinto falta de olhar em seus olhos... e dizer "eu te amo"...

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