domingo, 14 de agosto de 2011

Friends will be friends




Por Susie:

01/08/2003

Vesti meu short xadrez, minha camiseta preta e calcei meu All Star de mesma cor. Não que fosse uma obrigação, mas eu tinha que ver o cabeça de maçã todos os dias. O enorme portão de Neverland sempre permanece aberto aos amigos de Jackson, por isso, sem ter de passar pelo habitual processo de autorização de acesso ao rancho, sempre faço visitas ao meu melhor amigo, no momento em que tenho vontade.

Michael sempre instituiu seu amor por mim, nossos momentos sintetizados em uma só paravra significa felicidade. Somos amigos há cinco anos, estou incluída na lista de fraternidade desde os meus dez. Ele sempre escolheu com o coração, não se importando com a idade. Eu compreendo o fato de ele ainda ser uma criança, uma vez que também sou. Apesar de ele ter 44 anos e eu agora ter 15, somos muito parecidos um com o outro. Não somos verdadeiramente compatíveis com todas as pessoas de nossa idade, gostamos de brincar como se fossemos crianças no jardim de infância.

Ele já estava acostumado a ter-me por perto quase todos os dias. Passamos de amigos a irmãos e tudo o que eu menos queria era ter um dia o magoado.


***

Ao avistar-me, os seguranças abriram o dourado portão. Corri por entre o caminho do gramado e florido jardim e subi em um pequeno e lindo carrinho preto com pinturas em desenhos do
Peter Pan. Não avistei ninguém no percurso. Parei no harmonioso bosque que acolhia a árvore da sorte e encarei as lindas luzes brilhantes da lua e das estrelas.

Subi as escadas, imaginando encontrar Michael com as crianças e com eles fazer todo tipo de bagunça, mas ao adentrar a sala percebi que havia uma recepção formada. Abracei meu amigo e sussurrei algo engraçado ao seu ouvido. Eu queria estar com ele e não com aquelas demais pessoas. Quando eu ia subir para ficar com as crianças, o veneno de um lindo sorriso fez com que a metamorfose natural da vida acontecesse. Um garoto, de aproximadamente dezessete anos, encarou-me desconfiadamente. O mistério que aquele estranho representava levou-me a decidir ficar por ali e observar.

"Burra, idiota e simplória!"
Pela primeira vez na vida, xinguei-me de todos os maus adjetivos que dos quais pude lembrar-me. Estava revoltada por ser ali a única com trajes esportivos. O garoto aproximou-se. Ele era o motivo de eu ter a repentina preocupação.

Olhei para baixo e deixei que a lisa e média franja escondesse meu rosto.
— Olá... - não era de se crê, mas somente a voz, olhar e sorriso do desconhecido, fez com que eu virasse outra garota. A mutação que ocorria com a ajuda de meus hormônios fez com que eu agisse sem pensar, sem enxergar e sem medir as consequências.
— Susie... - hesitei, apesar de ter a estranha sensação de que deveria
mesmo estar ali. Era um momento memorável, não por ter sido bom e sim por ter sido a prova mais difícil da minha vida — Muito prazer! - sorri.
— Freddy... - estendeu a mão. O toque fez com que borboletas confirmassem o que eu já estava desconfiada — O prazer é todo meu! - exclamou e jogou uma piscadela. Aquele garoto mexia comigo.

***



15/08/2003

Já havia se passado alguns dias desde quando eu tinha conhecido Fred. Nele eu dei meu primeiro beijo; para impressioná-lo eu usei meu primeiro salto alto; com ele eu aprendi a viver muito bons momentos da adolescência, pena que são efêmeros.

A secretária eletrônica piscava irritantemente, mas eu estava ocupada demais procurando um chapéu que combinasse com meu look. Peguei minha bolsa de mão e fui para a praia, onde eu agora sempre ficava com Fred. Percebi que um carro preto estava muito próximo a mim, mas não dei muita importância. Encarei o meu rosto no espelho de meu compacto e sorri ao constatar que estava demasiadamente bonita.
— Um beijo? - Fred pediu suplicantemente, surpreendendo-me por trás. Sorri, encarei os lábios dele e cedi-lhe um beijo.
— Hoje eu vou embora mais cedo... - segurei sua mão direita com a minha esquerda — Há tempos não vou ver o Michael!
— Não prefere ir a um luau? - sorriu maroto, envenenando-me como sempre.
— Não... - resisti à tentação.
— Eu te amo... - declarou, fazendo carinha de cãozinho abandonado.

Mais tarde eu fui para casa. A luz vermelha ainda piscava indicando que havia algum recado. Um filme passou em minha mente. "E se o Fred me pedir em namoro?" - elucidei, resolvendo ir à praia.

Arrumei-me e fui. Poderia ver Michael outro dia. Chegando à festa, flagrei Freddy aos beijos com outra garota. Ele não sabia que eu iria e por isso eu consegui vê-lo do jeito que ele era e não como aparentava ser. Ele a olhava como dirigia seu olhar a mim; ele brincava com os cabelos dela como brincava com os meus. Claramente ela era mais uma em sua lista... assim como eu.

Talvez fosse natural, mas ainda não tinha como eu saber. Estava acostumada com o jeito de Michael e por isso não conhecia a verdadeira face de um garoto mentiroso. Enquanto Freddy dizia amar-me, Michael realmente me amou.

Criei coragem e fui até o garoto de lindo e falso sorriso. Ele era meu ponto fraco, mas eu sou inteligente o bastante para dizer não às drogas.
— Olá... - não era de se crê, mas somente a minha voz, olhar e sorriso, fez com que ele virasse outro garoto. O feitiço virou-se contra o feiticeiro. Ao notar que eu não estava prestes a fazer um barraco, Fred reconheceu seus próprios sentimentos e incomodou-se com a ausência de ciúmes.
— Su... - olhou para baixo, envergonhado — Não é nada daqu... - tentou perseverar.
— É sim! - pisquei e suspirei, posteriormente dando meia volta para ir embora. Não olhei para trás. Michael não estava lá e era dele que eu precisava no momento.

Mais de mil e quatrocentos passos depois, cheguei em casa. Joguei-me no sofá e comecei a contar os segundos para o dia amanhecer. Levantei-me e acendi as lâmpadas da sala. A secretária eletrônica ainda piscava, ou seja, há dias minha mãe nem aparecia em casa. Aproximei-me do aparelho e assustei-me ao notar que mais de quarenta recados haviam sido deixados. Coloquei-o em meu colo e apertei o botão. Sorri ao escutar a voz de Michael, que deixou-me religiosamente no mínimo dois recados por dia.
A cada dia, ele parecia mais desanimado, uma vez que sentia-se abandonado por mim. Apesar de estar tarde, resolvi retornar as ligações, mas ninguém atendeu... Disquei e liguei por diversas vezes até acabar por dormir no sofá. Eu não poderia cobrar nada, eu deixei a desejar primeiro.
Levantei-me, lavei meu rosto e fiquei feliz por conseguir ainda enxergar a Little Susie no espelho. Vesti uma t-shirt rosa, uma bermuda xadrez e por fim coloquei meu colete e meu All Star jeans. Prendi meus cabelos em um alto rabo-de-cavalo e fui silenciosamente para praia. Agora era só eu e minha bike, eu não tinha coragem de ir até meu amigo, se é que ele ainda considera-me algo dele.
— Por que está sozinha? - escutei uma doce e familiar voz. Abri os olhos, deixando que as lágrimas rolassem no rosto. Michael sentou-se ao meu lado e cruzou as pernas.
— Você está... zombando de mim? - virei os olhos, limpando as lágrimas que desciam até meu queixo.
— Ei... - limpou minhas lágrimas — Não vim aqui para zombar de você. Não é isso que os amigos fazem...
— Não te mereço! - pulei nos braços dele. Michael pegou seu celular e apertou o player:


Image"[...]Não é fácil amar, mas você tem amigos em quem pode confiar.
Amigos serão amigos.
Quando você precisar de amor eles lhe darão carinho e atenção.
Amigos serão amigos.
Quando você está cansado da vida e sem esperanças,
segura suas mãos, porque amigos serão amigos até o fim."
Image


Sorri e logo recomecei a chorar. Quanto mais meigo ele era comigo, mais culpa eu sentia . Não tinha sido, nos últimos tempos, a menina que Michael havia ensinado-me a ser. Minha família sempre foi ausente e então sempre o tive como pai, irmão e amigo. Meu tudo.
— Freddy... bem... ele não é o que eu idealizava! - fechei as mãos em punhos, brava comigo mesma por ter sido realmente
burra, idiota e simplória. Não pelo que eu imaginava que era e sim por ter acreditado em um sorriso bonito. Lindo garoto com horrorosas atitudes. E ainda mais, por ter deixado de lado quem eu nunca deveria ter abandonado. Fui realmente idiota... com quem menos merecia.
— Ninguém é perfeito... - ponderou, levando minha cabeça ao seu peito.
— Você é... Mas eu esqueci-me de que nem todo mundo é tão sincero quanto você! - sorri por tê-lo ao meu lado. Freddy já não fazia a menor falta.

Image "Agora está um belo dia.
O carteiro entregou uma carta do seu amor.
Apenas um telefonema distante.
Você tenta achá-lo mas alguém roubou o número dele.
De fato... Você já está se acostumando à vida sem ele no seu caminho."
Image


As lágrimas cessaram. Ao segurar as mãos de Michael, eu percebia que tinha algo único.
— Aw! - gritou ao sentir um beliscão. Ri sapeca.
— Queria ter certeza de que não era miragem... - gargalhei. Estava mais feliz a cada instante — Por mais que eu seja uma boba, você ainda continua aqui...
— Sempre estarei... sua boba! - sorriu timidamente e bagunçou meus cabelos. Levantou-se e estendeu a mão para mim.


Image "É tão fácil agora, porque você tem amigos em quem pode confiar.
Amigos serão amigos.
Quando você precisar de amor eles lhe darão carinho e atenção.
Amigos serão amigos.
Quando você está cansado da vida e sem esperanças,
segura suas mãos, porque amigos serão amigos até o fim."
Image


Quando olhei para trás, Freddy estava lá parado. Olhava sem disfarçar em minha direção, com as mãos nos bolsos. Michael parou frente a um carro, o qual eu consegui reconhecer como o veículo que estava sempre por perto no tempo em que passei "longe" de seu dono. Sorri ao perceber que Michael realmente nunca esteve longe de mim...
— Tem um tempo? - Freddy disse ao aproximar-se. Analisou-me e sorriu daquele modo que antes poderia fazer com que eu esquecesse o resto do mundo. Agora sim eu estava linda, eu esta sendo eu mesma.
— Sim... - sorri. Michael fitou o chão, relembrando das cenas de solidão e abandono. Ao perceber minha alegria, adentrou o carro. Freddy pode não ser um garoto mal, mas precisa a aprender que não se pode ter tudo. Ele tem de amadurecer, mas eu não acredito que isso aconteça agora. Eu sorria por estar liberta, estava feliz por saber que de fato aquele garoto não conseguiria envenenar-me mais — Tenho tempo para o Michael... - balancei a cabeça — Aprenda a dar valor ao que tem, é isso que estou fazendo... O pior é perder algo e saber que você mesmo foi o culpado. Felizmente eu acordei a tempo... Pena que você não!

Dei as costas para ele e o deixei refletindo sobre o que eu havia dito. O carro de Michael movimentava-se lentamente. Corri até o veículo e abri os braços em sua frente. O motorista freou, Michael saiu para fora e eu pulei em seu colo.
— Susie? - sorriu.
— Não te troco por nada... bobão!

Image "É tão fácil agora, porque você tem amigos em quem pode confiar.
Quando você precisar de amor eles lhe darão carinho e atenção.
[...]Amigos serão amigos.
Quando você está cansado da vida e sem esperanças,
segura suas mãos, porque até o fim amigos serão amigos.
"
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